É comum ler-se nas brochuras que promovem os empreendimentos turísticos da região que o Algarve tem mais de 300 dias de sol por ano e areais a perder de vista. Mas será esta a ideia que o resto da Europa tem de nós? Seremos nós efectivamente as caraíbas da Europa?
Se desenvolvêssemos um inquérito de top of mind por toda a Europa, perguntando quais as 3 ideias-chave que ocorrem quando pensa no Algarve, será que sol e mar estariam nesta lista ou seríamos surpreendidos?
Muitas vezes construímos uma marca alicerçada em certos conceitos mas existem outros que escapam a essa construção e que crescem na mente dos visitantes de modo informal, contudo vinculativo e que estão mais intimamente ligados à experiência que se teve no local, a notícias veiculadas nos meios de comunicação social ou redes sociais do que às mensagens emitidas por quem trabalha a marca. Urge assim compreender como a Europa nos vê enquanto destino turístico e qual o potencial que essa visão pode ter no desenvolvimento da região.
Numa era em que vivemos um novo nomadismo e onde turistas se confundem com city users convém questionar o mercado e indagar sobre o seu futuro. Há quem defenda que o Algarve pode ser a nova meca dos nómadas digitais? Poderá esta ser uma realidade ou é apenas um desejo de encontrar novos caminhos para um posicionamento da região nos mercados estrangeiros. Estudos mostram que se por um lado, o Algarve possui uma vantagem competitiva em aspectos como segurança, clima, qualidade do ar, por outro ainda há um grande caminho a percorrer no que concerne à fomentação de start ups, criação de redes eficazes de networks na área das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) ou mesmo em questões que à primeira vista podem parecer mais simples como o acesso ao serviço de Internet em banda larga. Então como podemos ser competitivos quando as estatísticas afirmam que a maioria dos adultos na região do algarve têm dificuldades significativas em competências básicas, de literacia, matemática e digitais, não sendo aptos na moderna sociedade da informação e do conhecimento!
Nos anos 2000 Crispin Raymond e Greg Richards desenvolveram o conceito de turismo criativo, definindo o mesmo como: “Tourism which offers visitors the opportunity to develop their creative potential through active participation in learning experiences which are characteristic of the holiday destination where they are undertaken”. Passados cerca de 20 anos, muitos foram os destinos que apostaram nas indústrias culturais e criativas enquanto impulsionadores do turismo, o que levou a um crescimento e amadurecimento da relação entre criatividade e turismo. Da promoção do património material, passou-se para a promoção do património imaterial e o conceito de turismo cultural passou a ser curto para o potencial da indústria cultural e criativa. Segundo Greg Richards, o turismo criativo evoluiu e tornou-se uma área de convergência de diferentes áreas das políticas de desenvolvimento, com foco não apenas no crescimento do turismo, mas também nas formas como o turismo pode contribuir para o crescimento da criatividade dos turistas e da população local. Será esta uma nova forma de exportação? E o Algarve? Neste percurso de convergência entre turismo e indústria cultural e criativa a região encontra-se em que ponto?
Já muito se tem feito. De louvar iniciativas como Loulé Criativo …… mas a verdade é que o turismo criativo ainda não é um dos key selling points da região.