Ao longo da história do Cinema, podem-se distinguir vários temas que surgiram e o moldaram, tendo levado consequentemente à sua conceção atual. De facto, quer o mundo interior/psicológico do Homem, quer algumas doenças mentais que são frequentemente retratadas no Cinema, despertaram curiosidade por parte dos realizadores, tendo levado à sua intensiva abordagem.
Apesar de tudo, enquanto alguns filmes as apresentam de uma forma mais realista, como, por exemplo, Bicho de Sete Cabeças (2000), outros apresentam-nas de um modo bem mais ficcional, tal como Uma Mente Brilhante (2001). Neste sentido, apenas irei escrever acerca dos primeiros, para tentar responder à pergunta de partida:
“Poderão os filmes que retratam as doenças mentais ajudar ou contribuir para o tratamento psiquiátrico dos sujeitos em questão?”
Por outras palavras, o objetivo deste artigo consiste em determinar se realmente os filmes poderão contribuir para um melhor resultado no tratamento de doentes mentais e como se dará essa influência e contribuição. Mas antes de analisar qualquer tipo de relação entre o Cinema e as doenças mentais, é fundamental explorar cada um dos conceitos em particular.
Cinema
As etapas da vida pelas quais todos passamos são bastante diferentes umas das outras. Contudo “há coisas que nunca mudam”. De facto, existe algo comum a todas as gerações, algo que as aproxima e que faz delas seres humanos. As capacidades cognitivas, dos sonhos, das fantasias e até mesmo dos fetiches, estão sempre presentes no consciente e no quotidiano de cada um de nós. Tal, prende-se à necessidade da imaginação, ou seja, à necessidade de fugir à realidade. É neste contexto que o Cinema desempenha um papel essencial.
O Cinema veio precisamente concretizar sonhos impossíveis na “vida real”. De certo modo, veio ocupar o vazio que se fazia sentir no interior de cada pessoa. Quer a admiração, quer a identificação com os personagens de um determinado filme, correspondem a dois dos inumeráveis fatores que as levam ao Cinema.
Se o Cinema nos move devido às narrativas que apresenta, será ele capaz de nos ajudar? Segundo Ângelo Moscariello em Como Ver Um Filme (1985): “Não existe nenhum sector da actividade humana a que o filme não possa aplicar-se. Recorrem à ajuda da linguagem fílmica para fins ilustrativos ou de estudo. Do desporto à psicologia, (…) são verdadeiramente infinitos os campos de aplicação do filme.” De facto, é esta capacidade de gerar e transmitir sensações, sentimentos e pontos de vista que tem permitido esta expressão artística influenciar as gerações passadas, as atuais e as vindouras.
Doenças Mentais
Uma doença psiquiátrica consiste nos sinais e sintomas de comportamentos anormais ou anómalos de um determinado indivíduo. De modo geral, o Cinema pode ajudar ao tratamento de uma pessoa com este tipo de doença, estando dependente de dois fatores fundamentais, nomeadamente no tipo/tema do filme e na patologia associada ao doente. Como tal, a um sujeito deprimido, por exemplo, deve-se mostrar e analisar um filme que apresente sintomas semelhantes. Claro que no caso de algumas doenças, como a Alzheimer, os filmes infelizmente nada podem contribuir para o tratamento. Porém, ainda que não possam contribuir diretamente para o seu tratamento, poderão ajudar os familiares da mesma, mostrando não só como devem agir e como podem cuidar.
Da mesma forma que uma obra literária pode influenciar o comportamento do leitor, pode-se admitir que o Cinema também o pode fazer com os seus espetadores. É precisamente neste contexto que surge a noção do efeito de Werther, conceito proveniente do livro de Goethe (1774). Segundo consta, por o autor terminar a obra com o suicídio do jovem Werther, desencadeou um efeito de imitação nos leitores, acabando por se suicidarem exatamente da mesma maneira que Werther e com o livro aberto nas páginas que o demonstravam. Esta obra foi tão polémica naquela época, que a certa altura foi proibida em vários países europeus. Se tal obra desencadeou este efeito, atualmente também um filme apologista do suicídio ou pelo menos que o mostre: por exemplo Last Days (2005), filme que ficciona os últimos dias do vocalista da banda Nirvana, Kurt Cobain. Pressupondo que o Cinema possa induzir uma pessoa a cometer tal ato, por outro lado, também pode ajudá-la a superar determinados obstáculos, tornando-se benéfica para o sujeito em causa.