Venho de uma família que me educou o melhor que pôde. Nunca me faltou nada. Sempre tive tudo. Não me faltou comida. Não me faltou luxo. Não me faltou conforto.
A minha Mãe é uma guerreira. Uma profissional de excelência que sempre admirei pela dedicação, profissionalismo, pontualidade e espírito de sacrifício. Passou por empresas privadas e públicas, em diversas cidades, com um espírito de sacrifício que dói de ouvir falar. Entre grandes empreitadas, Vale do Lobo nasceu com ela. Mais tarde, dedicou parte da sua vida à causa universidade. O reconhecimento foi inevitável. Se o prazo era na segunda, hoje tinha de estar feito. Se o prazo era no fim do mês, hoje tinha de estar feito. Se o prazo era amanhã, não havia questões, já estava feito. Uma profissional reconhecida, que ainda hoje mantem relações com todos os colegas e ex-companheiros de trabalho. Uma referência. Uma lição de vida. A minha Mãe é amor. É carinho. É doçura. É a Melhor Mãe do Mundo.
O meu Pai também é um profissional de excelência. Diretor clínico do HDF, diretor de serviço, reconhecido nacionalmente por tudo o que fez pela causa saúde. Um médico daqueles que não há hoje. O único foco é o bem estar do doente. Trabalhou no público e no privado em simultâneo. Raramente o víamos em casa. Na rua ouvíamos frases, palavras e gestos de agradecimento. Éramos o filho do Doutor. Compensava em momentos que se tornaram rituais. Aprendi a montar a cavalo com a sua ajuda. Dias inteiros que eu passava nos centros hípicos enquanto ele devorava jornais ao som dos equídeos.
Também ele, ribatejano, nos passou valores, formas de estar e comportamentos que vieram a ser bastante úteis na vida profissional. Bastava estar atento. A forma como tínhamos “conversas de homem” como eu lhe chamo. Aquelas lições das entrelinhas que apenas os mais astutos conseguem perceber. Um cumprimento, um olhar, um silêncio. Não lhe ofereceram ainda a medalha da cidade, mas acredito que faro terá uma rua com o seu nome. Se assim não for, as memórias são, efetivamente, bastante curtas.
A minha Mãe sempre poupou dinheiro. Sempre nos ensinou a viver com pouco. Mas nunca nos faltou nada. Pelo contrário. Sei bem do que falo. O meu Pai sempre viveu como se não houvesse amanhã, no momento. E para quem sabe, o “Piri-piri” era a nossa segunda casa. Sem restrições e muitos profiteroles. (Engraçado ler hoje o livro “Pai Rico, Pai Pobre”…)
Ninguém me ensinou a ser empresário.
Fiz os estudos até à universidade de uma forma absolutamente regular. Chumbei dois anos. Tinha uma banda de hardcore, andava de skate e fazia bodyboard. Tinha muitos amigos e tive muitas namoradas.
Na vida académica tentei sugar cada segundo, cada atividade, cada momento. Vivia sozinho e aprendi a lidar com o dinheiro de forma simples. Sempre sem pensar no amanhã. Mas foi nesta altura, nomeadamente, enquanto fui presidente da Associação Académica da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa que aprendi que tinha jeito para liderar pessoas e para cumprir objetivos.
O meu estágio na Fundação Oriente, os meus primeiros trabalhos, todo o meu percurso foi uma esponja. Aprendi, dediquei-me e tentei sempre superar-me enquanto profissional.
Trabalhei para empresas publicas, privadas, em Portugal e no estrangeiro. E em 2008 fali um negócio. Um centro de cópias em Loulé. E passei momentos bastante difíceis nos períodos que se seguiram.
Depois fui para Moçambique trabalhar para multinacionais, para empresas pequenas, para projetos inolvidáveis.
E quando regressei a Portugal, abri então a B16 Unipessoal Lda.
Nunca ninguém me ensinou a ser empresário.
Tento aprender diariamente. Falo com colegas empresários. Googlo imensas coisas e vejo imensos vídeos. Já recorri a consultoria externa. Já fiz cursos online e sempre que posso vou a eventos que possam contribuir para alterar algo em mim. Leio muito.
O meu percurso de 2016 até hoje tem sido gratificante, difícil mas memoravelmente bom. Com coisas boas e coisas más, sinto-me um empresário de sucesso.
Não tenho foco no lucro, mas nas pessoas. Não tenho foco nas vendas, mas na diferença que causo no negocio dos meus clientes. Não sou um capitalista, mas sinto-me um líder deste clã que formámos em conjunto.
A verdade é que nunca imaginei não ter horário para trabalhar. Não tenho. Posso tentar criar uma rotina, mas não tenho um horário fixo. Posso sair sempre que quero.
Posso ir buscar a minha filha quando ela está doente. Posso levá-la aos cavalos às terças-feiras à tarde. Posso escolher ir à praia com o meu filho e com os meus cães. Posso viajar com a minha família e informar a minha equipa que não estarei a trabalhar nesses dias.
Em outubro de 2024 estive 3 semanas na indonésia e a minha equipa deixou-me de tal forma tranquilo que nada nos dificultou a vida. Correu às mil maravilhas. O clã é, de facto, um grupo de pessoas com os mesmos valores, preocupações e objetivos.
E acredito que parte disso nasce em mim.
“Ontem contratávamos pela força, hoje contratamos pela mente e amanhã contratamos pelo coração” – não sei quem disse essa frase, mas acredito que o tempo verbal já é outro. Antes de ontem contratávamos pela força, ontem contratávamos pela mente, hoje contratamos pelo coração e amanhã não sei, mas qualquer coisa relacionada com a Inteligência Artificial…
Preocupo-me com o meu bem-estar. Essa é a diferença. Conectar-me com a natureza, comigo próprio, com o lugar onde habito.
Gerir uma empresa tem tudo a ver com a forma como nos distanciamos do Eu e nos posicionamos de fora a analisar as nossas 4 responsabilidades: Gestor, Produtor, Sonhador e Investidor. Esses 4 chapéus são diferentes entre si.
Faço a gestão da empresa com base na informação do ontem; produzo todo o trabalho executivo e operacional durante o dia de hoje; imagino a empresa no amanhã; e, acima de tudo, conecto-me ao meu papel do investidor para imaginar o fruto dessa minha jornada.
Há quem pense no objetivo final monetário, há quem pense no legado, eu tenho por base 3 princípios simples: ser feliz no caminho que percorro, dar o máximo de mim hoje para que o resultado me ofereça orgulho amanhã e, de forma geral, não perder dinheiro nessa caminhada. Os primeiros dois são fáceis. O terceiro é mais difícil.
Mas a verdade é que tenho uma equipa de sonho. Não é difícil orquestra-la, eles sabem tocar. Não é difícil conduzi-la, eles sabem para onde vamos. Não é difícil controlá-la, basta relembrar semanalmente os kpi’s.
Podemos ir mais longe, certamente. Mas precisamos de ir ao mesmo ritmo.
A diferença entre gerir e liderar é muito grande.
Posso não ser o melhor líder, mas sou líder. Posso não obter o melhor resultado, mas em conjunto vamos caminhando para o lugar certo. Posso não ter aprendido a ser empresário, mas a verdade é só uma: ser empresário está no Eu. Os objetivos podem ser distintos, mas para empreender, é preciso ser.
Para 2025 o meu foco vou ser eu. O meu bem-estar. O meu lugar. A minha saúde. A minha paz. Se tudo isto existir, o resto é fácil. Temos visão, missão, valores e objetivos bem definidos. No caminho é que está a resposta.
E o meu caminho passa pela Ria Formosa, pela Serra e pelo Lugar Sagrado.
É na Ria Formosa, na barrinha, na ilha deserta e nos hangares que encontro: a fluidez da areia nos dedos; a transparência da água; a leveza do mergulho.
É na Fonte Férrea, no Monte da Menta, no Cerro do Bispo e em Marmelete que encontro: a diversidade da vegetação; a complexidade da geologia; a solidão apaziguante; o silêncio dos pássaros.
É em Sagres e na Costa Vicentina que encontro: a energia da natureza, do criador e a complexidade contagiante; o mar hipnotizante; o lugar sagrado; as encostas, escarpas e as falésias.
Ninguém me ensinou a ser empresário.
Ninguém me disse que a vida passa depressa.
Ninguém me explicou o melhor caminho.
Eu escolhi este. E acredito que não estou errado.
Privilégio é viver aqui. Privilégio é estar aqui. Privilégio é ser empresário aqui.